9 de fevereiro de 2011

A arte de pilotar em baixa velocidade

A arte de pilotar em baixa velocidade

(texto publicado originalmente na HOG Magazine, ISSUE 22 - January-2011, "Taking it Slow - the fine art of riding a big bike at low speeds". Tradução livre de Carlos Gityn Hochberg).

Muitos de nós já vimos aqueles vídeos de policiais norte-americanos, em Electra Glides, fazendo manobras no meio de cones, em competições muito apreciadas lá em cima. Estas competições são levadas muito a sério e realmente têm uma plástica toda própria. Aqui no Brasil damos pouquíssima atenção a este conjunto de técnicas e, paradoxalmente, nós, que pilotamos motos pesadas, dificilmente nos preocupamos com elas.

Sempre vemos gente "andando" com a moto na hora de manobrar (os americanos chamam isto de "duckwalking", ou "andar como um pato", que é uma imagem bem fiel disto). Além da falta de elegância, há o indubitável atestado de incompetência ao pilotar a moto. Um amigo meu riu quando eu disse que iria fazer o curso de baixa velocidade: "Você vai pagar só pra andar devagarinho?" Pior que a ignorância é a ignorância da ignorância...

Pilotar uma moto pesada em baixa velocidade e fazendo curvas é difícil. Há toda uma técnica envolvida, e não é pouca. E conhecer estas técnicas é importante, mesmo que seja somente para nos salvar do vexame de derrubar nossos "caminhões" a 5 km/h, normalmente na frente de uma grande platéia. Pilotar devagar e em linha reta não é a parte mais difícil. Pilotar em baixa e, ao mesmo tempo, fazendo curvas é que traz um monte de emoção à tona. Com a técnica própria, paciência e treino, podemos, em pouco tempo, fazer a maioria das manobras do pessoal que participa dos concursos lá fora.

Assista e aprenda

Assistir aos vídeos dos policiais americanos naquelas exibições/competições é bem instrutivo. O pessoal é "profissa". Há diversos vídeos destes no Youtube, por exemplo, e dá pra ver como os caras usam o corpo nas manobras. Em baixas velocidades, eles "deitam" a moto para dentro da curva e o corpo para fora dela. Desta maneira, eles equilibram o conjunto e permitem que a moto deite mais e, em conseqüência, as curvas podem ser feitas mais "fechadas", sem que o conjunto tombe.

Observe, também, que eles sempre viram a cabeça para onde querem que a moto vá. Isto é importantíssimo em baixas velocidades. Nestes vídeos, vê-se claramente que a moto está indo em uma direção e o piloto está olhando para o lugar onde quer ir logo em seguida.



Diminua, olhe, empurre e acelere

Nos cursos Rider's Edge e outros oficiais da MSF (Motorcycle Safety Foundation - é uma fundação que estuda o assunto de segurança em pilotagem de motos e desenvolve curso, material didático, etc. para motociclistas e motoristas), é ensinada a técnica do "diminua, olhe, empurre e acelere" para se fazer curvas. Em curvas de baixa velocidade, bem "apertadas", o processo é similar, mas é interessante dividir este processo em suas etapas e analisá-las uma a uma.

Diminua

Ao preparar-se para fazer uma curva lenta e apertada como, por exemplo, um retorno a 180º, não diminua a velocidade antes do que é realmente necessário. Motocicletas perdem estabilidade ao diminuírem sua velocidade e, portanto, manter um pouco mais de velocidade o ajudará a mantê-la mais ereta e equilibrada. Aproxime-se da curva a uma velocidade que você não necessitará frear dentro da curva.

Olhe

Talvez nem precise ser dito, mas a primeira parte de "Olhe" requer que verifiquemos se é seguro e permitido fazermos a tal curva a 180º. Verifique se o tráfego permite e se não há obstáculos ou resíduos na trajetória pretendida. Verifique também se você tem uma folga para a manobra, caso a curva não seja executada tão apertada quanto você desejava.

Caso haja degrau no acostamento, cascalho profundo ou outro perigo, talvez seja melhor ir mais para a frente e achar um lugar melhor para virar.

Ao preparar-se para efetivamente virar a moto, vire sua cabeça na direção da curva. Olhe para onde você quer ir na curva e não para a frente de sua moto. Isto é importante em qualquer curva e em especial em um retorno a 180º. Mantenha a cabeça erguida e os olhos nivelados e, caso necessário, vire os ombros também, para que sua cabeça guie seu corpo e moto em um arco suave contínuo.

Empurre

Para começar a curva, empurre o lado do guidão de DENTRO da curva. A isto se chama "contra-esterço" (é um efeito MUITO importante quando se pilota motos pesadas) e ele irá inclinar a moto para dentro da curva, na direção em que você quer ir, iniciando a curva. Em baixas velocidades, após a moto inclinar-se, o guidão deve ser revertido do contra-esterço, com a roda, agora, apontando para dentro da curva.

Para conseguir uma curva bem apertada, jogue seu peso para o lado DE FORA da curva (mais sobre isto adiante), apoiando-se na pedaleira de fora ao começar a virar.

Acelere

Um dos aspectos menos compreendidos e mais importantes de curvas em baixas velocidades é, talvez, o menos intuitivo: manter uma velocidade constante na curva. Mantenha o motor girando um pouco acima da marcha lenta, em rotação constante, e controle sua velocidade "queimando" a embreagem.

Se você percebe que está tombando para dentro da curva, seu instinto pode ser o de desacelerar a moto, mas isto só irá PIORAR a situação. Em vez disto, ACELERE um pouco e a moto se equilibrará novamente, ajudando-o a completar a curva sem ter que tocar o chão com o pé, o que pode ser perigoso. Enquanto completa a curva, acelerar um pouco irá reendireitar a moto enquanto você vai em direção oposta.

Incline-se para fora e não para dentro!

Em corridas, em curvas de alta velocidade, os pilotos normalmente jogam seu corpo para dentro da curva, em uma maneira tão extrema que normalmente arrastam os joelhos na pista (uma manobra conhecida como "pêndulo"). Esta manobra move o centro de gravidade do conjunto moto-piloto em direção ao centro da curva e permite que façam curvas inclinando menos a moto em altas velocidades.

Em curvas de baixa velocidade fazemos o contrário. Precisamos aumentar ao máximo o ângulo de inclinação da moto - assim, diminuímos o raio da curva. Pilotos experientes transferem seu peso para o lado de fora da curva. Não é necessário transferir muito peso para o lado de fora - um pouquinho já ajuda muito. Mas, pilotos experientes, como aqueles das competições em baixas velocidades, podem fazer isto de maneira realmente dramática.

Para fazer curvas bem apertadas a baixa velocidade, levante totalmente do banco e deslize para a parte de fora da moto. A maior parte de seu peso deve estar apoiada na pedaleira de fora da curva. Esta técnica de "contrapeso" permite que você incline a moto bem mais do que normalmente faria e o raio de curva diminui consideravelmente, sem que haja necessidade de mais força centrípeta para manter o equilíbrio.

Nem sempre, entretanto, é necessário ou desejável fazer curvas muito apertadas. Por exemplo, em estacionamentos, você pode achar que a melhor maneira de manobrar sua moto é com os pés no chão. Muitas vezes esta é a melhor maneira de estacionar a moto, mas não sem seus riscos - alguma prática é necessária.

Normalmente, motos grandes caem ao serem manobradas ao estacioná-las ou sair de estacionamentos. Manobrar uma moto de ré pode ser complicado, ou mesmo impossível se há um aclive atrás da moto.... Evite o erro do principiante de estacionar sua moto de frente em uma descida e sem espaço para uma manobra que a possa tirar desta situação desagradável. O melhor, caso esteja em uma descida, é melhor estacionar de ré - aí você sai de frente, usando o motor, claro.

Ao estacionar de ré, não vire muito sua cabeça para trás. OK, os instrutores normalmente dizem para você girar bem a cabeça para trás. Mas, ao fazer isto, você pode, sem querer, também virar ombros e tronco, deslocando o centro de gravidade do conjunto e o desequilibrando. E, caso sua moto comece a cair, você não estará na melhor posição para aprumá-la novamente.

Antes de ir para trás, tente colocar a moto em uma posição em que você se deslocará em linha reta em vez de ter que virá-la indo para trás. Vá devagar. Você precisará usar o freio dianteiro para controlar a moto ao ir para trás e tenha em mente que, se usar muito freio dianteiro enquanto estiver fazendo uma curva, mesmo que suave, a tendência é que a freada tenderá a incliná-la ainda mais. Portanto, freie suavemente e mantenha a moto o mais ereta possível.

Caso você se encontre naquela situação desagradável de estar estacionado em um declive e a única saída é ir para trás, não tenha receio de pedir ajuda. Peça ao seu garupa ou amigo motociclista ou mesmo a alguém que esteja perto que o empurre devagar e com cuidado para trás, até que você alcance um posicionamento que permita que você saia de onde está com meios próprios.

Caso você seja baixo, manobrar sua moto com os pés no chão é aquela situação em que você perceberá se a moto serve ou não para você. Caso você mal consiga encostar com os dedos do pé no chão, sua capacidade de manobrar a moto apropriadamente (ou mesmo equilibrá-la, caso ela comece a tombar) será muito limitada. Lembre-se: bancos e suspensões mais baixas podem ser obtidas no mercado para melhorar seu conforto e capacidade de manobra.

Na prática

Como em tudo na vida, a melhor maneira de melhorar estas habilidades é praticando-as. Procure algum estacionamento vazio e marque um círculo de 8 m de diâmetro (nós usamos bolinhas de tênis velhas cortadas ao meio). Caso você consiga fazer duas curvas consecutivas dentro do círculo, você estará melhor do que os alunos que fazem o curso "Rider's Edge Skilled Rider Course" (curso para motociclistas avançados, em tradução livre). E pratique em ambos os sentidos, horário e anti-horário. Curvas em sentido horário podem ser mais difíceis, já o acelerador está na mão direita, que estará bem perto do corpo, dificultando o uso do mesmo.

Você ficará surpreso em quão rápido suas habilidades melhorarão com apenas um pouco de prática (supondo-se que você use a técnica correta, claro). Melhor ainda, faça um curso credenciado (não temos isto aqui no Brasil...) com bons instrutores.

Curso realizado na Base Aérea SP (Rider Program - Advanced Riding - instrutor Baccaro)



  1. Olá Carlão,
    Excelente!! Vamos aguardar a próxima turma do Baccaro para aprender a cair em baixa velocidade, rssss
    Um forte abraço

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  2. Oi, Rogério!

    É, vamos aguardar mais uma turma, sempre vale a pena.

    []s

    Carlão

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  3. Acho muito estranho a ultima frase onde esta escrito,"não existe cursos e não tem bons instrutores para esta modalidade", acho estranho pois as imagens é do rider program, oferecido aos clientes do grupo izzo, e o instrutor sem qualificação, conduziu este curso por NOVE anos sem nenhum acidente, ou reclamação dos cliente, gostaria tivessem mais consiencia e respeito as pessoas que desenvolvem excelentes trabalhos em pró dos moticiclistas, como vc mesmo escreveu somos poucos. BACCARO, O INSTRUTOR SEM QUALIFICAÇÃO.

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  4. Baccaro,

    De forma alguma queríamos ofendê-lo. O Carlos e eu já fizemos o curso (as fotos são dos exercícios com ele) por duas vezes e eu entrei em contato com vc há poucos dias para saber quando será o próximo porque quero fazer de novo. Seu curso é excelente e eu recomendo a todos que o façam.
    A afirmação apenas tem sentido porque o curso que vc ministra é ligado ao Grupo Izzo e direcionado aos proprietários de HDs, não a todos os proprietários de grandes motocicletas. Um curso como o da Motorcycle Safety Foundation não existe no Brasil, salvo engano.
    De todo modo, pedimos desculpas se não nos expressamos bem e, de novo, reiteramos a seriedade e qualidade dos cursos ministrados por vc. O respeitamos muito e, se assim não pensássemos, eu não estaria inscrita numa lista de espera para um próximo curso de baixa velocidade.
    Esperamos ter esclarecido nossa intenção e lembramos que esta é uma tradução livre de um texto já publicado.
    Aproveitamos para oferecer o espaço para alguma outra consideração que queira fazer ou dica que tenha a dar.
    Até breve,
    Jacqueline

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  5. Na verdade o que escrevi foi "Melhor ainda, faça um curso credenciado (não temos isto aqui no Brasil…) com bons instrutores". O que deveria ter ficado claro em meu texto é que não temos, no Brasil, um curso credenciado, pelo menos eu não tenho notícia da existência, mas certamente bons instrutores existem. Assim como vc desempenha um grande trabalho, outros estão ministrando cursos pelo Brasil, é certo.

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  6. O que mais ouço da Jacqueline desde que a conheci;
    - Faça o curso de pilotagem de baixa velocidade com o BACCARO.
    Abraços a todos.

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  7. Oi, Mariza!

    Sim, acreditamos que conhecimento é muito importante. E que nunca é demais.

    []s

    Carlão

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  8. Pois é! Mas parece que uma frase (que apesar das aspas não está no texto) altera tudo. E o texto é muito bom, né? Pra vc que já assistiu aos vídeos acho que complementa muito bem. Bjs.

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  9. Já fiz o curso citado nos comentários e a conclusão que cheguei é de que ele é dispensável se tiver disciplina e buscar um lugar para praticar. É uma técnica que se aprende sozinho, bastando ler a respeito, começando pelo texto que o Carlos garimpou, e principalmente praticando, praticando e praticando, nada mais que isto.

    Quanto aos treinamentos promovidos pelo Grupo Izzo, para os Proprietários de Harley-Davidson do Brasil este grupo é uma página enterrada com muita cal. O bode foi tirado da sala.

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  10. É o que nós temos feito, Rômulo. A prática é fundamental. Os cursos em DVD do Jerry "Motorman" Paladino também são excelentes mas, como vc já disse, só praticando se atinge o objetivo: controlar a moto! Grande abraço!

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  11. Oi Jackie, Realmente a matéria e o vídeo são espetaculares!! o João prometeu que fará as curvas como os policiais... muito treino!!
    Vou postar no site das Ladies, tudo bem?
    Bjs

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  12. Oi, Sandra! Pode postar no site das ladies, claro.

    Bjs

    Carlão

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  13. Ok amigos! Já está na página inicial!
    Valeu!!!

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  14. Caro Carlos,
    Comprei recentemente uma 883R e estou super-interessada em fazer este tipo de curso de pilotagem em baixa velocidade. Por favor, quando souberem de uma nova edição deste tipo de evento aqui em SP, capital, vocês poderiam me avisar?
    Grata,
    Márcia Jericó

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  15. Ótimo blog, parabéns me ajudou muito.

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  16. Adorei os comentarios.Mas eu estou numa situação um pouco difícil mas não é uma coisa do outro mundo.Tenho 1:70 de altura tenho dificuldades de estacionar nas ruas da São Paulo.Tenho uma Tiger 800 xc a moto é excelente o único problema é estacionar a moto no meio fio em SP o chão é tudo desigual já mandei rebaixar no máximo o banco também regulei não fico com os pés totalmente no chão dependendo do asfalto fico na ponta dos pés em alguns casos fico quase com os pés no chão mas não totalmente.Quando eu paro a moto no sinal eu deixo a moto do lado direito aí o pé fica totalmente no chão sendo que o esquerdo fica bem nas pontinhas dos pés.O que fazer.

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  17. Bom dia! Obrigado por seus comentários. Sei que diversos fabricantes disponibilizam kits de rebaixamento de suspensão para suas motos, principalmente as big trails. Vc já verificou com a Triumph? Fora isto, há pouco o que fazer... []s!

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  18. Acabei de comprar uma Ultra. Estou acostumado com minha Fat Boy, que me deixa bem confortável quanto ao apoio dos pés.
    Apesar de 1,73m a Ultra fica mais difícil a parada é largada. Já me indicaram um Kit de rebaixamento. Mas fico temeroso, porque a HD não tem para vender. Apenas indica quem vende e faz a instalação.
    Um amigo disse que o dele rompeu, por sorte nada houve de grave.
    Gostaria de uma orientação se vale a pena o rebaixamento e se ele não causa algum prejuízo, seja na dirigibilidade, frenagem, estabilidade,etc.

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    Respostas
    1. Oi, Petro! Olha, não conheço este kit e também não sei quanto ele rebaixa. Mudanças grandes na geometria podem trazer problemas graves a curto, médio e longo prazos para sua moto e para você. Acredito que método menos agressivo seria trocar os amortecedores traseiros por outros mais curtos, com o mesmo curso. A FAR tem estes amortecedores, são a gás, dupla ação, etc. Eles têm 5 cm a menos que os originais. Vc pode encontrá-los aqui: www.amortecedoresfar.com.br . []s

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  19. Nossa, que bacana. Finalmente achei o texto que eu estava buscando. Apesar de não ter uma moto de maior cilindrada (ainda), era justamente essa "diferença" no contrapeso do corpo e moto que eu estava buscando para ler. Iniciei no mundo motociclístico a pouco e estou com uma moto pequena (150cc) para me acostumar ao transito de SP. Já fiz um curso inicial com o Tite, mas se tiverem mais material, dicas ou tutoriais que possam servir para o "domínio da moto em baixa" será de grande valia. Desde já agradeço e parabenizo pelo conteúdo. Abraço, Priscila =)

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  20. Oi, Priscila! Olha, em baixa o melhor curso que fizemos foi do Baccaro, que ministra aulas para a Harley do Brasil. Não sei como está o calendário dele, mas, se entrar no site da H-D aqui do Brasil você deve encontrar alguma coisa, além, claro, do SAnto Google. []s e boa sorte!

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  21. Boa tarde Fiquei muito interessado em fazer o curso de pilotagem. Tem uma Shadow 600 só tendo muita dificuldade e manobras curtas. Só que estou em BH...pode me ajudar?

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  22. Oi, Marcão. Infelizmente não podemos ajudá-lo, já que não conhecemos ninguém em BH que ministre estes cursos - mas, deve haver. O Google certamente sabe quem ministra estes cursos aí. []s

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